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terça-feira, 3 de julho de 2007

Anarquistas a serviço do rock´n´roll


18.7.05
Anarquistas a serviço do rock´n´roll
por Miguel Cordeiro


Naquele tempo Salvador era sacudida pelos sons de texto forte e iconoclasta. Isto, quase sempre, levava a uma convivência com figuras de grande senso de humor e capazes de provocar situações inimagináveis.

Nilton era presença obrigatória no meio rock´n´roll local e do alto dos seus quase 1,90 m era percebido a distância. Sua conversa fácil conquistava a simpatia de todos e sempre estava disposto a ajudar, seja carregando equipamentos, divulgar shows pichando paredes e colando cartazes ou servindo de segurança. Volta e meia surgia com alguma novidade e um dia saiu distribuindo entre os amigos calças camufladas, jaquetas verde-oliva e sacolas de lona que um primo tinha surrupiado do quartel aonde servia o exército.

Dono de uma privilegiada criatividade e de um apurado senso estético, Nilton fazia adesivos alucinantes das bandas locais com papel colante Contact e desenvolveu uma técnica de fazer estampas em camisetas utilizando como molde grandes radiografias que eram artisticamente recortadas e através das quais imprimia logotipos das bandas The Jam, Sex Pistols, Clash, Bauhaus. Suas criações eram disputadas a tapa.

Nilton era um cara impossível, um estrategista genial, um anarquista a serviço do rock´n´roll. Certo dia estava no aeroporto de Salvador e lá viu Pepeu Gomes & Baby Consuelo acompanhados por Armandinho da Cor do Som e trio elétrico. Aí Nilton teve uma idéia cabulosa. Foi de guichê em guichê das empresas aéreas e numa delas obteve a informação que Pepeu & Baby iriam pegar um avião para o sul do país; Armandinho, ao que parecia, apenas teria levado o casal ao aeroporto.

Nilton, assim como a maioria dos rockers da época, nutria verdadeira ojeriza pelos artistas ripongas baianos chamando-os, pejorativamente, de “telúricos”. Pois Nilton, ninguém sabe como, arranjou uma maneira de entrar no setor de bagagens e ao encontrar o estojo da guitarra de Pepeu, o abriu e colou na frente da sua guitarra um adesivo do Camisa de Vênus, de acordo com os rockers, a banda inimiga dos “telúricos”.

Dias depois em meio a um grupo de conhecidos e com seu jeito galhofeiro, Nilton relatou a sua aventura no aeroporto descrevendo com detalhes as roupas cafonas espalhafatosas do trio de “telúricos” e encenando a suposta reação de Pepeu ao ver sua guitarra com o tal adesivo. E Nilton falava entusiasmado sob gargalhadas gerais e gritos de aprovação. Mas ele fazia questão de frisar que seu gesto foi um protesto meramente estético, ressaltando que não teve nenhum interesse em danificar a guitarra de Pepeu, na sua definição “o telúrico masculino e feminino”.

Esta sua atitude estava diretamente ligada às regras de boa parte do rock brasileiro dos anos 80 que praticava uma política de ruptura e de confronto com as nossas raízes e tradições musicais, com a MPB, com os regionalismos. De certa forma, bem diferente da postura dos roqueiros brasileiros surgidos a partir dos anos 90 que são extremamente conciliadores e conformistas.

Nilton não participava de nenhuma banda, mas era um parceiro fiel de todas elas. Com um show marcado no Teatro Vila Velha, ingressos esgotados antecipadamente e cercado em grande expectativa, o grupo baiano de punk rock Gonorréia falou aos próximos do incômodo dos copos plásticos com resíduos líquidos que eram atirados ao palco por um determinado grupinho na hora em que tocavam uma das músicas mais famosas do seu repertório, “Comer lixo todo dia”.

Nilton, que estava presente, ouviu a preocupação da banda e surgiu com uma idéia, digamos, suja. Antes do show ele e os integrantes do Gonó recolheram uma cacetada de sacos de lixo que estavam nas ruas próximas ao teatro e os colocaram atrás dos amplificadores de palco. Quando surgiram os primeiros acordes de “Comer lixo todo dia” os copos plásticos começaram a voar em direção a banda. Neste momento e sob a orientação de Nilton, os roadies do Gonó pegaram os sacos de lixo e jogaram em cima da turma que atirava os copos. E eles estavam tão hipnotizados pelo som, que dançavam e pulavam alucinadamente com as mãos para cima, e, ao perceberem aquelas coisas vindo em sua direção, instintivamente trucidavam os sacos e o lixo caía sobre suas cabeças emporcalhando todos eles. O fedor ficou impregnado em suas roupas, em seus corpos e eles, envergonhados, se viram obrigados a deixar o recinto e cair fora.

Depois do show a banda teve um enorme trabalho de limpar o chão do teatro, com a ajuda de Nilton, claro, mas em compensação os copos plásticos com resíduos líquidos de origem desconhecida nunca mais voltaram a ser atirados ao palco nas apresentações do Gonó.


COMENTÁRIOS:

Marcos
Ô Miguel, fiquei de escrever algo à respeito do último sábado mas os compromissos me roubaram o tempo. Aproveito a pertinência do seu texto então pra dizer que achei ducaralho o que rolou no World Bar. Um dos melhores shows dos Koyotes e tb um grande show do Persona Non Grata, apesar da falta do Karl Franz Hummel. Rock'n'roll sem firulas, por quem entende do riscado. Vovô Gustavo Mullen detonando na guitarra. E André Lissonger continua um dos melhores vocais de todos os tempos nessa cidade. Tudo foi bastante animador. No meio de tantas novas bandas de jovens-velhos bom poder ver novas bandas de velhos-jovens. Sangue nas veias. Parabéns a todos.

3:47 PM


Anônimo
miguel, não pude ir, mas vou levar o atestado, estava cuidando de bebê de seis meses...quando ao texto du caralho...eu menino,12, 13 e 14 anos, relembro comprazer dos shows no circo troca de segredos e relâmpago e da cena como um todo...agora, me tirem uma dúvida...gonorréia ou skarro era a banda de scott?
Cláudio

4:32 PM


Franchico
porra, Miguel, seus textos são sempre uma luz nessa coisa meio obscura que é o rock n' roll baiano (de qualquer década). espero que vc continue a escrever essas memórias por muito tempo ainda. o rock precisa desse conhecimento. duca.

5:07 PM


Anônimo
ah, miguel, que falta faz o espírito anarquista genuíno no rock baiano, hein?!
Cláudio

5:10 PM


cebola
Pueblo, só pra reforçar, nuestra banda, Tequilers, junto com os fabulosos Koyotes, se apresentarão neste sábado, dia 23, as 22:00, no imortal calypso, a irrisórios 5 conto, em mais uma noite rock na cidade do axé. Levem suas irmãs e priminhas, e deixem o resto com nosotros. Todos lá.

5:35 PM


Anônimo
Beleza Miguel,
gosto das suas memórias.
Acho que os anos 80 na bahia foi dividido em duas partes: A primeira metade tinha uma postura mais punk (o punk demorou prá chegar), inconformista, tipo as camisas FUCK OFF, todas aquelas bandas punk: trem fantasma ( do lendário Nicolau rios ”o melhor som é Nicolau”), gonorréia (a banda de Scott) o camisa e tal, dentre muitas...A segunda metade Já era mais melancólica, falava mais de sí, já não tinha o ranço do “eu tenho que brigar com alguém... mas quem é o inimigo mesmo?”,tinham as bandas punk como o dever de classe, via sacra, doutrina decadente, código penal...Mas na cena o que mandava mesmo era 14 andar, utopia, diário oficial, elite marginal, cravo negro e outras subservientes. Nessa época eu via os caras na tv e não acreditava, era muito xôxo, o efeito nefasto do legião urbana tinha deixado seu rastro,Bandas boas como a treblinka não tinha apoio da rádio 96, o new rock píer transamérica já tinha saído do ar ...e a galera pagando show jabá a rádio...ainda bem que os 90 chegou.
Abços
Mario jorge

Originalmente em:
http://clashcityrockers.blogspot.com/2005/07/anarquistas-servio-do-rocknroll.html

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